Conservatória
cresceu e prosperou durante o ciclo do café da economia brasileira, a
partir do século passado. A cidade, hoje distrito do município de
Valença, foi um importante elo na produção e circulação do produto,
abrigando mais de 100 fazendas que plantavam o café e o escoavam pelo
antigo caminho ferroviário que vinha das Minas Gerais e ia para a Corte,
na cidade do Rio de Janeiro, de onde seguia para o porto e outras
cidades do país.
O
primeiro registro da localidade data do final do século XVIII, a partir
de um relato de 1789, em que Conservatória era reserva dos índios
Araris, "elegantes e desembaraçados", segundo o naturista Saint Adolph,
um dos primeiros historiadores a registrar o fato. Diversas histórias
justificam a origem do nome, sendo que a mais corriqueira diz que o
lugar era conhecido como "Conservatório dos índios", um lugar de
excelente clima e protegido por montanhas, onde os Araris se recolhiam
para se recuperar de doenças que dizimavam as tribos e local no qual
resolveram se instalar definitivamente. Em 1826, existiam cerca de 1.400
índios aldeados na reserva, vivendo felizes no lugar de onde seriam
exterminados pelos desbravadores colonialistas. Vestígios dos Araris,
como artefatos em cerâmica e algumas ossadas, já foram encontrados em
escavações feitas em diversos locais da região.
A
prosperidade econômica do final do século XIX deu início a outra
tradição na vila: a das serenatas - a música cantada sob o sereno -, que
hoje atraem mais de mil pessoas a cada fim-de-semana para a cidade,
vindas dos mais diversos recantos do país e do exterior.
Um
dos grandes motivadores da tradição da música na cidade é o Museu da
Seresta, que tem o maior acervo de músicas de serestas do país - e um
dos maiores do mundo -, criado pelos irmãos Joubert e José Borges. O
museu mantém viva uma página da cultura musical brasileira, reunindo os
seresteiros às sextas-feiras e sábados à noite, que de lá saem para
cultivar o hábito, raramente quebrado, de cantar pelas ruas da cidade.
Em
1998, Conservatória comemorou 120 anos de serenatas. Conta a história
que a tradição nasceu com um romântico professor de música e tocador de
violino, Andreas Schmidt, que, em uma noite enluarada no silêncio do
vilarejo, atraiu espectadores, e o professor Andreas passou a ter como
rotina tocar seu violino na praça, nas noites estreladas. Aos poucos,
músicos vindos de outros lugares passaram a acompanhar as serenatas do
professor, e essa virou uma característica incorporada ao lugar.
Música e grandes paixões sempre
estiveram de mãos dadas em Conservatória e geraram muitas histórias de
amor. Certa vez, em 1938, Antonio Castello Branco, um abastado
fazendeiro de Santa Isabel, distrito vizinho, que vivia uma paixão não
correspondida por uma moça de Conservatória, resolveu demonstrar seu
amor conforme a tradição. Colocou seu piano de cauda em cima de um
caminhão e percorreu mais de 20 quilômetros em estrada de terra
esburacada, só para tocar e cantar sob a janela da amada. Consta que o
gesto deu resultado, e a moça aceitou o fazendeiro como esposo.
Os cerca de quatro mil habitantes
do distrito recebem os turistas com o aconchego e afeto que só as
cidades do interior conseguem manter. Barraquinhas oferecem artesanato e
iguarias locais - bordados, roupas, quijos, doces - lembranças que os
turistas levam do paraíso. A cada mês, é realizada, na Igreja de Santo
Antônio, padroeiro da cidade, a missa dos seresteiros, que acompanham as
orações cantando e tocando violão, mantendo as letras religiosas, mas
com a harmonia das antigas serestas.
Fonte: http://www.conservatoria.com.br/